quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Incerteza

“Quem sou eu?”,” Para onde vou?”, “Existe vida depois da morte?”. Dúvidas existenciais e intemporais na nossa sociedade, no nosso mundo, nas nossas cabeças… na minha cabeça. Faço frequentemente as duas primeiras perguntas a mim mesmo, esperando após longos períodos de silêncio obter uma epifania, as respostas que tanto procuro… mas nada. Dói-me esta sensação do nada dentro de mim, absorvo todas as sensações todos os momentos que as pessoas me dão e tudo desaparece dentro de mim como um buraco negro que absorve toda a energia e tudo aniquila. E sinto-me só, sem forças para lutar. Lutar pelo quê? Lutar para quê? Lutar para atingir um sentimento de auto-realização? Sentimo-nos realizados quando temos alguém com quem partilhar as vitórias, alguém que puxe por nós e nos faça sentir queridos e capazes de fazer tudo. Eu não sinto nada disso. O que eu sinto é que as vezes, preferia não sentir absolutamente nada. Não ter sentimentos, olhar para tudo com total indiferença e seguir como se não fosse nada comigo, pois agora sinto, dou atenção, aconselho, sou amigo, rio, choro, amo, procuro a felicidade… e não encontro nada. Já nem o pensar que o dia de amanhã será melhor que o de hoje me traz alento, há muito tempo que para mim os dias são quase sempre idênticos, salvo raras excepções, em que pequenos momentos trazem alguma luz e força, mas ainda assim não me sinto uma pessoa feliz e custa-me sempre dar resposta a algum pedido de conselho quando eu próprio não me sei ajudar a mim mesmo. Hoje fui a um sítio aonde já não ia há algum tempo e encontrei uma pessoa que há muito não via. Cumprimentou-me e em tom de brincadeira perguntou, por estar ali naquele instante, “andas perdido?”, “sim, ando”, respondi a sorrir, apercebendo-me da certeza da minha resposta.

O último poema

Assim eu quereria o meu último poema.
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.

Manuel Bandeira